Pandemia influenciou doação de medula óssea; ABTO aponta queda de 20%
O Brasil tem o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo, com cerca de quatro milhões de pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Destes, mais de 520 mil estão cadastrados em Minas Gerais.
Porém, além das pequenas chances de encontrar um doador compatível – uma em 500 mil –, a pandemia influenciou, e muito, na queda de doações.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), entre janeiro e junho, o número de transplantes de medula óssea realizados diminuiu quase 20% em relação ao mesmo período de 2019.
Além disso, os hemocentros registraram queda de 30% na procura por cadastros voluntários para a doação.
Segundo o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas, os números são um reflexo do medo de contágio.
“A expectativa é que esse cenário mude, mas para isso é fundamental informar a população quanto aos processos e fluxos seguros dentro de hemocentros e hospitais, e conscientizar que a doação de medula óssea é um gesto de solidariedade que pode salvar vidas”, destaca.
Nesse cenário, com o objetivo de conscientizar e esclarecer a sociedade sobre a importância da doação e do transplante de medula óssea, a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, realizada anualmente entre os dias 14 e 21 de dezembro, e estabelecida há 10 anos, visa ampliar a conscientização acerca do ato.
Neste período, o Redome e os hemocentros do país farão uma força-tarefa por meio de ações informativas e de cadastro de doadores com o propósito de mobilizar os cidadãos.
Ainda, para o hematologista, é importante alertar a população sobre a importância da doação para milhares de famílias, principalmente aquelas que as chances de compatibilidade são ainda menores – situações nas quais há um número pequeno de filhos ou mesmo nenhum.
“Por isso, é essencial que continuemos expandindo nosso banco de doadores. E, também, porque as pessoas envelhecem, deixando de ser eletivas para transplantes. Então, é necessário que haja uma reposição com pessoas jovens para que esse banco continue”, explica.
Como ser um doador
“A doação de medula é bastante segura e muito necessária. Tem sido salvadora. Para se ter ideia, temos recebido medula de diversos países, assim como as do Brasil vão para outras nações. Então, isso é muito importante. O banco de doadores hoje tem um impacto mundial e ultrapassa as fronteiras nacionais.”
Wellington Azevedo, hematologista do Grupo Oncoclínicas
“Os voluntários devem manter o cadastro atualizado. Assim, quando houver compatibilidade, o doador será contatado”, informa Wellington Azevedo.
“É um processo feito em centro cirúrgico que requer internação de 24 horas. Para ser doador é necessário ter entre 18 e 60 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde e não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou no sistema imunológico”, explica o especialista.
Como é o transplante
Em caso de transplante alogênico, o receptor precisa se submeter, antes de receber a doação, a quimioterapia. “Dependendo do caso clínico, é feita radioterapia no corpo inteiro para tratar a doença de base e enfraquecer o sistema imunológico para aceitar as células do doador”, descreve Wellington Azevedo.
“Só então, e quando o paciente estiver sem infecções, se alimentando e se hidratando adequadamente, o que pode levar até 90 dias, ele receberá alta hospitalar”, finaliza o hematologista do Grupo Oncoclínicas.
Futuro
“Pode ser que consigamos ter cultura de células, bem como expandi-las em laboratório. Isso ainda é um fato novo, em processo experimental. Por isso, a importância de podermos contar, no presente, com mais doadores.”